sábado, 31 de agosto de 2013

Perigo: tios em extinção

Hoje vendo as fotos de família cheguei a uma conclusão, daqui uns tempos não teremos mais tios e tias.
Não é que não teremos mais tios e tias, isso ainda vai ter, mas não teremos mais as figuras caricatas que marcaram o que é um TIO e uma TIA.
Porque existe, por não sei quanto tempo, uma padronização dessas figuras. Repare, toda família tem um tio bêbado. Aquele que quando bebia dava dinheiro para os sobrinhos. Ele são, é um, bêbado é outro. Tipo Bayne e o Hulk. A bebida transformava ele no Silvio Santos. Muda da agua para o vinho, por causa do vinho. Toda família tem também o tio que fuma e toma café. O café sempre acompanha o cigarro e o cigarro sempre acompanha o café. Não importa a hora ou onde, ele sempre está fumando e bebendo café. Ele anda com uma carteira de cigarros num bolso e uma garrafa de café no outro. Tem o tio chato, ele é velho desde que você era criança. Ia na casa dele, ficava na sala, mas não podia assistir televisão. Tinha que ficar na sala com a televisão ligada. Todo mundo tem uma tia que se acha menininha. Uma tia muito crente, uma tia muito católica. A família é de espirita, tem a tia crente e a católica fervorosa. Existe outros tipos de tios e tias que todos nós temos em comum, mas infelizmente, assim como a família em si, essas tias e esses tios estão entrando em extinção.
A um tempo atrás, se seu nome era, Cida, Vera, Zé, Claudio, você já nascia tio.

Não estão mais sendo produzidos tios e tias como antigamente, estamos numa queda de tias Veras e tios Zé. Não nos vejo sendo eles. Quero dizer, não sei como isso acontece, se você vira um tio Zé, uma tia Vera, ou se já nasce sendo eles. Não sei se tem uma idade da transformação. Um dia você está normal, no outro começa a tomar café, fumar e contar piadas velhas de salão nos churrascos, um dia você é uma menina normal, no outro sua unha está maior do que a do Zé do Caixão, pintada de vermelho e usando salto. Realmente não sei, mas se já é de berço, não vejo muito futuro para eles. E isso é triste, porque os nossos filhos, netos, bisnetos não vão ter contato com essas figuras, só vão conhecer por histórias ou por fotos. No futuro não existiram mais tias Veras, Cidas, tio Zés, Jorges, Claudios.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Beliche

Nunca mais vi um beliche. Lembra dos beliches? Aquela cama colocada em cima da outra. O beliche era um retrato do que era a família. Hoje em dia ninguém mais compra beliche, por três motivos. Um, porque é feio, dois, porque ele gerava muita discussão pra decidir quem ficaria em cima e quem ficaria embaixo. “você se mexe demais, não pode dormir em cima” “e você mija na cama”. Ah, a briga pelo topo do beliche. E três porque não tem espaço para colocar o beliche. Todo mundo tem um primo que já caiu de cabeça de cima do beliche.
Junto com a extinção do beliche, estão sendo extintas as famílias. Porque o espaço está diminuindo. Os apartamentos de hoje em dia estão cada vez menores e mais caros, da pra chamar eles de kinder ovo.
Antigamente tinha espaço para colocar três, quatro filhos, mais o cunhado, e outros parentes que apareciam. Hoje dia não, os apartamentos são: sala, quarto, cozinha e banheiro. Tudo isso no mesmo comodo.
As novas famílias não têm onde acomodar os filhos, por isso existe tantos métodos contraceptivos, não é porque as pessoas não querem ter filhos, mas sim porque não tem lugar. Isso é um fato, para pra pensar, nossos avós, eles não ligavam, tinham oito, dez, doze filhos, mas é porque eles tinham espaço. Lembra a casa dos seus avós, era grande, você podia se perder, dava medo de andar pelos corredores, medo de encontrar algum fantasma. Nos apartamentos de hoje não tem fantasma, não pra ele. Ou fica você ou o fantasma.
A situação está feia, na china já foi limitado o numero de filhos, por causa do espaço, nas grandes metrópoles já teve uma queda de natalidade, pessoas com três filhos já estão sendo discriminadas, estamos sofrendo a pressão pra não sermos pais, daqui uns dias você vai ter que comprar teste de gravides escondido, a policia vai prender quem transar sem camisinha.
Já foi muito discutindo como o mundo iria acabar se em agua, fogo, gelo, e na situação que está, acho que o mundo vai acabar em kitnets.
E daqui uns tempos você só vai conseguir encontrar beliches nas cadeias ou no museu.

No museu:
- mãe o que é aquela cama em cima da outra, arte moderna?
- Não filho, aquilo é um beliche.
- Boliche?
- Não, beliche. É onde seus avós e os irmãos deles dormiam.
- Nossa, credo.
- O que filha? Era normal, era seguro dormir no beliche.
- Não, falei credo para os irmãos. Deus me livre.