quinta-feira, 22 de março de 2012

Caixa de fotos

Todo mundo tem em casa em cima de um dos guarda-roupas, uma caixa com fotos antigas. Essa caixa é o que faz você manter aquela bagunça toda lá em cima. A verdade é que no futuro ninguém mais vai ter motivo pra ter bagunça em cima do guarda roupas, já que não vão mais precisar guardar as fotos dentro de uma caixa, basta um pen drive e está tudo resolvido. No maximo terão uma gaveta bagunçada.
Mas ver fotos no computador, não tem a mesma emoção. Por que é impressionante o poder que as caixas, com fotos antigas, tem de fazer você parar de fazer o que quer que esteja fazendo pra mexer nelas. Num segundo você está disposto a arrumar a bagunça, que está prometendo a muito tempo tirar de cima do guarda roupas. No outro está sentado no chão, com fotos espalhadas para tudo quanto é lado, dando risada do penteado do seu pai.
Infelizmente isso é uma coisa que aos poucos as próximas gerações não vão fazer, por que hoje em dia ninguém mais revela fotos, só se preocupam em tirar, tirar e tirar fotos, aos milhares, já que podem voltar até que fique boa. Antigamente não, você tinha um numero certo de fotos que poderia tirar, que variava entre 12, 24 ou até 36 vezes, então cada foto era única. E o que era melhor, ninguém poderia reclamar que piscou, ou que não tava pronto, já que só descobririam se aconteceu isso, depois que elas fossem reveladas. Cada foto tirada era um ‘me avisa quando revelar pra eu ver!’.
E é curioso que em muitas das fotos tem umas pessoas que você nunca viu na vida, você fica olhando pensando ‘quem é esse bigodudo’, pergunta pra sua mãe, pros irmãos, vizinhos, e quase sempre ninguém sabe. Para evitar situações como essa, foi criada a placa: proibida a entrada de estranhos.
Ao ver essas fotos, você nota como o tempo faz bem pras pessoas. Você se vê e não acredita que tinha coragem de sair de casa daquele jeito. “Que cabelo era aquele, rabinho, por que minha mãe me deixava usar rabinho? E as roupas eram tão bregas”. Talvez seja por isso que ainda guardamos essas fotos, pra um dia quando estivermos mal, com baixa auto estima, se achando feio, é só fuçar na caixa de sapato e ver como você já foi muito pior.

terça-feira, 20 de março de 2012

Tapouer

Já reparou que quanto mais pobre se é, mais tapouer se tem em casa?!
É incrível a ligação que um tem com o outro, não se sabe ao certo se é por causa do preço, acessibilidade ou o que, só sabe-se que o pobre tem uma atração por eles. Tudo bem que é um utensilio muito utilizado dentro de casa, serve para colocar resto de comida, também serve como substituto pra quando você quer utilizar uma panela, mas não quer jogar fora o resto do arroz que sobrou, ou até guardar a maionese que sobrou no domingo. É o utensilio que mais trabalha. E o pobre valoriza o tapouer, ele sabe que uma hora ou outra vai ter uma festinha e é onde ele vai guardar o pedaço de bolo da comadre. O pobre se apega ao tapouer, ele valoriza, chega a dar um armário só para eles. O problema é que os vizinhos sabem que é barato e que você tem muitos, então começam a não devolver. Ou devolve sem tampa, ou com a tampa errada. Segundo o IBGE: oito entre dez tapouer’s não tem a tampa ou tem uma tampa que não é original de fabrica. Por isso acho que o tapouer tinha que entrar na listas de coisas que não se emprestam. A lista de coisas que não se emprestam (existe uma lista, não oficial, mas existe) deviria ser: Mulher, carro, arma, livro, CD e tapouer.
Tem gente que improvisa um tapouer que é utilizando o pote de sorvete, na casa do pobre o pote é mais valorizado do que o próprio sorvete.
Então eu acho que as organizações que medem o nível de pobreza da população não deveriam fazer o calculo baseados em quantas pessoas moram na casa, dessas que moram quantas trabalham, quantos salários por pessoa que trabalha, se estudaram, fazem faculdade, etc. mas sim, deveriam perguntar, ‘quantos tapouer mais ou menos tem em casa? Tem um armário só pra eles? Desses, quantos tem tampa? Quantos são de sorvete?’.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Rubes, sem N

Rubes está num desses barzinhos, que depois de tal hora vira balada, já que não tem mais ninguém sentado e a musica está tão alta que não da mais pra conversar sem falar ao pé do ouvido e gritando. Nesse momento ele se encontrava parado de frente para o espelho do banheiro pensando em como iria abordar a loira que estava no balcão sozinha, tomando chope e cantando todas as musicas.
Vou chegar nela. Mas o que eu falo? ‘Oi tudo bem?’, oi tudo bem é muito formal, não é coisa que se fala num barzinho, se bem que já não é mais barzinho, ta mais pra balada. Pior ainda. Oi tudo bem não rola, muito profissional. ‘Oi tudo bem’. Já sei, vou chegar me apresentando. ‘Prazer Rubes, qual é a sua graça?’. Qual sua graça, ninguém mais usa isso. Talvez no tempo do meu avo fosse legal. Hoje não. Tenho que ser mais informal, ‘oi linda!’, oi linda é bom, as mulheres gostam de elogios. Oi linda, oi anjo, oi coração, oi querida... Não querida não, querida é muito irônico, vai achar que eu estou sendo irônico, vai pensar, “oi querida, nossa como ele é irônico”. Sendo que eu nem sou. Tenho que ir no básico, feijão com arroz. ‘Prazer Rubes. Isso Rubes sem N, BES mesmo. Diferente né, gostou? Quer levar pra casa?’. E se ela perguntar por que RuBES e não RuBENS? Se ela perguntar é por que ela está interessada. É um bom sinal. Então é isso, vou me apresentar. Depois a tiro pra dançar. Depois me declaro. Se bem que eu acho que ela não quer dançar, já devem ter tentado tirar ela, com certeza, ela está sozinha no balcão por opção. E outra se eu chama-la pra dançar ela pode usar a desculpa que está com o pé doendo. Lógico, já vou chegar tirando pra dançar, depois me apresento, depois me declaro. Ih mas eu não sei dançar. Tinha esquecido disso. Mas eu sei enganar. Engano bem. Sou malandro. Não tem por que ela não gostar. As mulheres gostam de malandro. O problema é se ela souber dançar, aí vai saber que eu não sei dançar quando formos dançar, vai descobrir que eu estava apenas tentando engana-la. Vai terminar tudo, afinal de contas mulher não gosta de ser enganada. Malandro não tem vez. O que eu posso fazer é: tira-la pra dançar e quando ela começar a notar que eu não sei dançar, falo que ‘não estava acertando por que estou com o pé doendo. Na verdade nem queria dançar. Só dancei por que ela insistiu!’. Aí eu me apresento, depois me declaro. Isso! Uso a dança como armadilha. Então é agora. Se bem que ela está bebendo, não quero atrapalhar, ta no momento dela. Vou esperar ela terminar de beber. Isso quando ela estiver terminando eu apareço. Melhor, quando ela estiver terminando de beber eu apareço com outra bebida e faço uma surpresa. Se bem que isso é um barzinho, um copo de chope não surpreende ninguém. Já sei vou comprar uma champanhe, quando ela estiver dando um ultimo gole, chego estourando a champanhe, pegando ela de surpresa, antes que ela possa falar alguma coisa eu a tiro pra dançar, peço desculpas por não saber dançar, me apresento ‘Rubes, sem N’, e me declaro. Será que tem champanhe pra vender aqui? Tomara que não seja caro. Não to podendo gastar. Será que eles financiam? Ah, mas se não financiar também vou comprar do mesmo jeito. Se for preciso eu vendo um rim. Ta decidido, vou vender um rim, aí ela vai ficar comovida, se apaixonar por mim e doar um dos rins dela. Fechado. É isso, vou lá agora. Estouro a champanhe. Puxo pelo braço pra dançar. ‘Desculpa eu não sei dançar’. ‘Rubes, sem N’. ‘Acho que eu te amo’. ‘Se eu desmaiar, não se preocupe, estou palido por que doei um rim por você’.
Quando Rubes sai do banheiro, o balada já voltou a ser apenas barzinho com alguns gatos pingados, sentados nas mesas, e a loira não está mais no balcão.