quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A fina arte de procrastinar


Estou há quase três meses para escrever essa crônica. O tema é procrastinar. Estava fazendo um estudo do caso, na pratica.
Procrastinar: transferir para um momento futuro; adiar; protrair; protelar, empurrar com a barriga, deixar para semana que vem o que eu prometi pra mim mesmo que iria fazer hoje... e tem mais alguns outros significados, mas eu vou procurar mais tarde.
“Pra que fazer hoje se eu posso fazer depois do feriado”, “já é quarta, melhor começar na segunda”, “não vou fazer agora, mas vou deixar aqui do lado, assim eu não esqueço de fazer”, “vamos marcar alguma”, “eu vou fazer, me cobra”. Admita, em algum momento você já usou uma dessas frases, ou todas. Procrastinar é humano. Aliás, o ser humano é o único animal que procrastina. É da nossa natureza. Não é o polegar opositor, ou a fala, que nos diferencia dos outros animais, sim o poder de adiar as coisas. Você joga uma bolinha para o cachorro, ele não pensa, depois eu pego, não preciso ir agora, a bolinha não vai sair dali. Ele vai e pega. Você joga a bolinha para o homem, ele manda você e buscar, afinal de contas ele não é um cachorro. Ao não ser que você seja o patrão dele, ai ele vai buscar, depois de enrolar um tempo.
No mundo, o brasileiro é o povo mais conhecido por deixar as coisas para a ultima hora, essa fama já se espalhou, nos outros países comentam “e o Brasil?” “o Brasil você sabe como é né, sempre tomando uma atitude na ultima hora, mas não se preocupa que ele aparece”. Somos expert em protelar ao máximo, a inscrição na bandeira nacional deveria ser: tardamos, mas não falhamos.
Liberdade e um bom prazo é a matéria prima para procrastinar. Porque quando temos os dois, deixamos para o ultimo minuto, só quando realmente vemos que não tem mais jeito, ai sim tomamos uma atitude, pedimos que aumentem o prazo de entrega, ligamos avisando que vai atrasar, prometemos para outro dia, etc.
Mas no fundo acho que protelar não é de todo ruim. Não apressamos a coisa, apuramos o caldo, enquanto estamos deitado cochilando, estamos estudando melhor a situação, então quando finalmente fizermos – se lembrarmos o que era mesmo que tinha para fazer – talvez saia melhor do que se tivéssemos feito quando tínhamos prometido.
A mulher é a prova disso. Deus fez o homem, ele poderia ter feito a mulher logo na sequencia, mas ele queria dar uma relaxada, por isso deixou para depois, nesse deixar para depois, ele analisou o que tinha de errado no homem, onde teria que melhorar, então quando ele foi fazer a mulher, saiu muito melhor, tudo porque ele procrastinou. 

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Uma hora a mais


Todo fim de ano nos é tirado uma hora, então quando estamos começando a nos acostumar com a perda, nos devolvem. Como aquela criança birrenta que o pai tira o brinquedo, por algum motivo, então quando a criança começa a esquecer, alguém devolve. Funciona mais ou menos assim o horário de verão.
Com o inicio do horário de verão adiantamos uma hora, os dias duram mais, as noites duram mais, o dia passa mais rápido. E a melhor coisa é, que você sai do trabalho ainda está claro, isso da a impressão que ainda vai dar para aproveitar o dia.
Em contrapartida com o termino voltamos o relógio uma hora, temos um dia mais longo, tudo bem que é o sábado, mas mesmo assim a uma revolta. Agora imagine como essa revolta seria maior, se o horário de verão terminasse na segunda-feira, ninguém aceitaria uma segunda com 25 horas. Acho que o termino do horário de verão é ruim, fica a sensação que o dia fica mais longo, você entra pra trabalhar está claro, você sai está noite. Então você começa a achar que não esta aproveitando a vida. Alias, trabalhar causa essa sensação. Mas trabalhar no horário convencional, só aumenta. Você não vê mais o sol, mesmo que o sol venha dando as caras ultimamente, você vai jogar a culpa no termino do horário de verão.
Acho que o certo deveria ser, 126 dias de horários convencional, e o resto do ano de horário de verão. Não ligamos para o nome “horário de verão”, sim para aquela horinha que faz toda diferença.
Ps:. Ponto positivo do termino do horário de verão: poder chegar atrasado e usar a desculpa de ter esquecido de mudar a hora. Mas essa desculpa só é valida até metade da primeira semana, depois disso soa ridícula. 
Ponto negativo: ter que aguentar os chatos falando, "é uma hora, mas é como se fosse duas".

- Chefe.
- Oi?
- Tava pensando, se eu não podia sair uma hora mais cedo.
- Por quê?
- Porque fim de semana terminou o horario de verão, então ganhamos mais uma hora, ou seja estou trabalhando uma hora a mais hoje.
- Não, terminou sábado. Já recuperou essa hora, teve o domingo inteiro para recuperar.
- Não consegui, eu fiquei fazendo os relatórios que o senhor mandou, alias, só consegui terminar porque trabalhei uma hora a mais. A hora que me foi tirada.
O chefe fica olhando para ele.
- Tudo bem, pode ir uma hora mais cedo.
- Obrigado chefe.
Vai saindo, com um sorriso no rosto.
- Opa, espera ai um pouquinho.
- Oi?
- Você esta me devendo uma hora.
- Estou?
- Está!
- Qual?
- Quando começou o horário de verão, você adiantou o relógio em uma hora.
- Sim, mas...
- Então, logo trabalhou uma hora a menos. Então estamos quites. Pode voltar ao trabalho e fazer o seu horário de expediente, normal.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

A voz


Será que os cachorros só nos entendem quando falamos com aquela voz de “idiota”. Aquela voz que é anasalada, você fala com um sorriso no rosto, solta uns sons estranhos no meio da frase e sempre repete a ultima sentença. Na teoria isso soa difícil, já na pratica soa ridículo. Não importa qual sua profissão, quanto dinheiro você tem, onde você está ou com qual pessoa, ao deparar-se com um cachorro (ou qualquer outro bicho "fofinho"), vai parar e falar com ele usando a voz – algumas pessoas tem sotaque nessa voz. É a mesma linguagem que usamos para falar com crianças recém-nascidas e os casais usam no inicio do relacionamento. O que os três tem em comum? É que nenhum dos três com quem falamos podem responder pelo seus atos, pois são “irracionais”.
A vantagem dessa linguagem é que ela é universal. Pode você falar com qualquer cachorro, bebe, namorada, de qualquer lugar do mundo que eles vão entender. Não existe curso pra aprender a falar desse jeito. Aprendemos sozinho. Todo mundo é bilíngue. Muita gente não sabe que pode falar esse “idioma”, até encontrar um bebe fofo ou começar a namorar. Pode colocar no currículo, “idiomas: português e voz de falar com cachorro”.
Meu único medo a respeito de falar assim, é que se algum dia o cachorro vir a falar, ele falar com essa voz. Ai a culpa é nossa.

- Cade o nenenzinho da mamãe? – fala para o cachorro, usando a voz.
- To aqui. – responde o cachorro.
- Cade o nenenzinho da mamãe?
- To aqui. – de novo.
- Cade o nenenzinho?
- Porra.
Chega o outro cachorrinho da casa.
- O que está acontecendo? – pergunta o recém chegado.
- Ela ta fazendo aquilo de novo?
- Quem é o outro nenenzinho? – Ela fica tão animada que chega a balançar o rabo.
- Sim.
- Como eles podem ser considerados a raça mais inteligentes?
- Cade os nenenzinhos da mamãe?
Os dois olham para ela.
- Não sei.
Viram as costas e deixam ela sozinha de quatro no chão.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiro dia de aula



Hoje é dia de volta as aulas. Saudades. Não de estudar, mas sim de ir para a escola.
Quanta responsabilidade tinhamos no primeiro dia de aula. Escolher onde sentar, a escolha do lugar era fundamental, onde sentaria é o que ditaria qual seria o seu comportamento durante o ano. 
Se sentasse no fundão não seria estudioso, um dos pré-requisitos para sentar no fundão era: não disposto a prestar atenção na aula e gostar de conversar; ou pelo prometer que só prestaria atenção quando a corda estivesse totalmente no pescoço, lá pelo terceiro bimestre. Já sentar na frente é mostrar para que estava ali, a maioria dos “inteligentes” e bem sucedidos que você conhece hoje sentava-se na frente. Sentar no meio era estar em cima do muro, era como dizer, estou ai, minha mãe quer que eu estude, mas se pintar uma bagunça, pode contar comigo. Não importa qual lugar você escolhia, só que a partir do momento que escolheu, aquele seria o seu lugar durante todo o ano letivo. Não tinha o seu nome na carteira, um documento, apenas estava implícito, era uma espécie de contrato invisível, mesmo se você faltasse, ninguém sentaria no seu lugar. Respeitavam. Então tinha que pensar bem, mas você só teria esse tato após o primeiro ano, então nos outros chegaria mais cedo pra garantir um bom lugar. Se pudesse com certeza teria crianças acampando em frente as escolas, como nos grandes show, ou clássicos de futebol, para garantir um bom lugar na sala.
Depois de escolhido o lugar, era esperar para saber quem sentaria a sua volta. Aquelas pessoas fariam parte da sua rotina diária, iria vê-las mais do que o seu pai. A da carteira da frente, a de trás, lado esquerdo e do lado direito. Esse seria o seu circulo. Sua rotina. Diga-me perto de quem tu sentas que eu direi quem és.
Com o tempo viria a descobrir de qual tribo faria parte. Dos nerds, dos bagunceiros, as bonitinhas, dos descolados, dos que sofriam bullying – os nerds também sofria bullying. Mas que não era nerds sofria porque era gordo, ou tinha a orelha grande, nariz grande, uma coisinha, um “defeitinho” e você poderia ser sacaneado o resto da vida. Ou se seria café com leite – que era não fazer parte de nenhuma das tribos acima. Isso era definido antes do fim do primeiro bimestre, e poderia ser mudado a cada troca de ano, já ouvi falar de casos de alunos que num ano fazia parte da tribo dos nerds, no outro estava na dos bagunceiros. Essa definição só tinha o prazo de validade de um ano letivo.
Depois de alguns anos como aluno, que já tinha passado por várias voltas as aulas, aprendia sobre tudo isso. Então sua única preocupação era: se cairia na mesma sala. Cair na mesma sala significava ter tudo definido, não precisar passar por tudo isso de em qual lugar, tribo, amigos, etc. cair na mesma sala era voltar a rotina.

- Cadê o Anderson?
- Não soube?
- Não, o quê?
- Ele mudou de escola.
- Mentira?
- Sério.
- Os pais dele fizeram isso com ele?
- Parece que mudaram o pai dele para uma filial do Rio De Janeiro.
- E não tinha nem ônibus pra ele vir todo dia?
- São oito horas de viagem.
- Qual é o problema.
- Não sei se os pais dele concordariam.
- Mas ele tinha tudo aqui. Agora vai ter que começar tudo do zero.
- É triste.
- Ainda bem que meu pai trabalha numa empresa pequena.
- Ainda bem.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Meus cumprimentos

Dois momentos difíceis da vida que passamos com quem não temos intimidade são: dar oi e dar tchau.
Deveria ser permitido iniciar e terminar uma conversa, com desconhecidos, sem precisar cumprimentar. O cumprimento só tinha que ser obrigatório a partir da terceira vez que encontramos com a pessoa. Não estou querendo disseminar o antissocialíssimo, longe de mim, só acho que deveria ser assim porque nunca sei qual oi ou tchau usar. Você da um oi de longe, a pessoa estica a mão. Você tem que dar a mão. Você estica a mão, ela estica a mão, também o pescoço e faz biquinho, opa é beijo. E agora? Quantos beijos são? Um? Dois? Três? Em alguns lugares é só um beijo, outros são dois, tem os que dão três “que é pra casar”, quatro bodas de ouro, cinco sendo que o ultimo é na boca, porque eu acabei de me divorciar e fiquei interessado em você. Não da pra saber. Sempre fica a duvida se o tempo que você ficou junto com a pessoa foi o suficiente para se abraçarem na despedida. Então você fica meio a mercê, “vou até metade, se ele não vir disfarço e finjo que estou me espreguiçando”. Então fica uma coisa meio desentendida, porque a pessoa só percebeu que você armou para abraçar tarde demais, então fica abraço-de-meio-corpo-querendo-a-outra-metade-não. Quem vê de longe tem a impressão um está tirando algo das costas do outro, não que estão se despedindo.
Agora pense, você está numa roda com quinze pessoas, sendo que só conhece, bem o suficiente pra saber como se despedir, apenas quatro. Você vai passar por esse constrangimento onze vezes. Porque se deu “oi e tchau” para os quatro, tem que dar para os outros onze, se não vai ficar mal falado. Agora pense que a cada roda com onze desconhecidos que você não cumprimenta, encontra com outros onze, e outros onze, e outros onze, logo você ficara conhecido com o desconhecido mal educado que só cumprimenta os conhecidos.
Pra não ser tão radical poderia apenas padronizar um tipo só de cumprimento para usar com pessoas que você não conhece, mas que está com algum conhecido. Poderia ser aquele aceno com a cabeça, aquele que você usa no trabalho, com as pessoas dos outros setores que você não conhece, não conversa, apenas cruza no corredor. No escritório funciona, a única parte ruim desse cumprimento de corredor de escritório é que se você passar 77 vezes pela pessoa, terá que cumprimentar todas as vezes, é uma regra.
Podemos padronizar esse aceno de corredor de escritório com o adendo de não precisar cumprimentar todas as vezes que encontrarmos essa pessoa.