quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Cansado de esperar


Não é a primeira e nem a ultima vez que anunciam que o mundo vai acabar.
Não é de hoje que prometem que vai acontecer, juram de pé juntos que dessa vez não passa e nada acontece. No fundo eu acho que as coisas andam tão ruins que estão começando a espalhar o boato porque talvez é a única maneira de resolver essa bagunça.
Não sei mais em que acreditar. No começo eu até me preparava para o fim do mundo. Fazia planos. Pensava em como ia me vestir. Fazia uma lista de quais seriam as ultimas coisas que iria fazer. Me despedia de quem tinha que se despedir. Comia minha comida favorita. Via meu filme preferido. E ele não aparecia. Ficava me sentindo como aquele filho cujo pai promete que vai buscar, ele se arruma, fica em frente ao portão e o pai não aparece. Por que antes quando anunciavam o fim do mundo era um Deus nos acuda, comoção, preocupação. Tinha que pessoa que sai gastando por conta, xingava o chefe, mandava a sogra ir a merda, terminava o casamento, se declarava para o colega de trabalho, soltava a franga, tudo achando que o mundo ia acabar e nada..
Já criaram tanta expectativa que o dia que acontecer mesmo ninguém vai acreditar.
 “o que é que está acontecendo lá fora?”
“o mundo está acabando.”
Silencio
“Me passa o sal.”

Esses anúncios de fim do mundo são iguais ao show do Roberto Carlos, na Globo, todo ano tem.

domingo, 25 de novembro de 2012

Desarrumado


Naquele quarto minúsculo de hotel eu a observava se arrumando para ir embora, e em minha cabeça o ditado: “só começamos a dar valor na pessoa depois que ela se vai”, começou a fazer todo o sentido. O mais engraçado é que eu estava a deixando ir embora por medo. Medo de ter alguém pra me fazer carinho, pra me fazer sorrir quando estiver triste, pra se preocupar comigo, mesmo quando não tem com o que se preocupar. Quando na verdade eu tinha que ter medo é de não ter alguém.
Quanto mais ela chegava perto de terminar de se arrumar, mais eu queria ela desarrumada, na cama, também desarrumada. Porque é quando estamos desarrumados que acontecem as melhores coisas. Você se arruma, pra encontrar alguém que te queira desarrumado. Não que ela precisasse de muito para se “arrumar”, mas ela gostava, ou estava fazendo aquilo pra ver se eu tomava uma atitude e a interrompesse. Como um viciado que se droga na sua frente, com os olhos dizendo: que não queria estar fazendo aquilo. E eu não fui. Na minha cabeça eu achei que estava sendo forte. Mas as vezes o mais forte na verdade é o mais fraco, já que você precisa ser forte pra admitir sua fraqueza.
Ela seguia com a arrumação, entre passar batom e juntar roupas espalhadas por todos os cantos, eu continuava na cama sem saber o que fazer, ensaiando o que falar, escrevendo e decupando um roteiro mentalmente. “Eu devo levantar dizer pra ela que não quero que ela vá, que eu gosto de estar com ela. Não mas isso é muito clichê.”, “Vou pegar ela pelo braço, puxar pra cama e beija-la, sem dizer nada. Também não.”. Não sabia muito bem como agir. Aquilo nunca tinha acontecido. Aquilo tudo. A noite num hotel, com danças, doces, cigarros, bebida e sexo. Apesar de eu não ter bebido, nem fumado, nem dançado. Mas tinha me divertido como nunca.
Então antes que eu pudesse colocar uma das 30 versões do meu roteiro em pratica, ela tinha terminado. Estava arrumada. Linda. Mais do que nunca, só de pirraça.
Era a hora de fazer o check-out.
Descemos em silencio. Ela arrumada. Eu desarrumado, desajeitado.
Chegará a hora de se despedir. Era minha ultima chance de dizer pra ela não ir, que eu queria que ela ficasse, que estava sendo um tolo. E ela queria que eu dissesse, dava pra ver nos olhos dela, nos silêncios, na respiração pesada.
Eu estufei o peito, tomei coragem e quando eu ia falar, o que já devia ter falado antes dela ter saído da cama ter se olhado pela primeira vez no espelho e visto que estava desarrumada, um taxi parou e o taxista perguntou se alguém queria taxi. Ficamos os dois em silencio. Só o radio taxi falando. O taxista esperando para ligar o taxímetro. Então ela cansou de esperar uma atitude minha e tomou uma. Abriu a porta do taxi, entrou e foi. Me deixou ali. Sozinho. Antes dela achei que sabia onde estava tudo. Agora tudo parece fora do lugar. Bagunçado. Desarrumado.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A arte de não fazer nada.



A verdade o que todos querem fazer, é: não fazer nada.
Nós trabalhamos, ganhamos dinheiro, pra um dia poder ficar sem fazer nada.
O ser humano inveja os animais porque eles não precisam trabalhar, levantar cedo, bater ponto, etc. Eles levantam, comem e dormem de novo. Não precisam fazer nada. Não tem compromisso. Não estão sempre correndo, com pressa e com prazos atrasados. “olha cachorro, até queria ficar aqui contigo batendo papo, sem precisar fazer nada, mas tenho um osso para enterrar, já está atrasado”.
É feio não fazer nada. Afinal de contas: “Cabeça desocupada é oficina do diabo”, quando estamos a muito tempo sem fazer nada o diabo usa nossa cabeça como locação. Um terreno vago. Monta uma barraca.
O ápice do ser humano é fingir que está fazendo alguma coisa para que não mandem fazer alguma coisa. E esse trabalho todo é para o que? Pra poder ficar sem fazer nada.
Mas não estar fazendo nada, incomoda as pessoas ao redor. Causa inveja nelas. “Espera aí, o cachorro tudo bem, agora você? Negativo. Pode ir fazer alguma coisa.”.
As mães são especialistas em não te deixar ficar sem fazer nada. A mulher é. Nunca fale perto de uma mulher que você não tem nada pra fazer, pois ela arrumara.
O homem só toma banho, trabalha, ganha dinheiro por causa das mulheres, se fossemos só nós, não faríamos nada disso. Não faríamos nada. Se não fosse a Eva, estaríamos até hoje no Paraíso, só de samba-canção vendo futebol. O mendigo é um homem que atingiu esse nível de aceitação do nada. Ele é um expert, pós graduado, na arte de não fazer nada.
Mas é muito mais difícil você não fazer nada sem dinheiro, do que com dinheiro. Pobre que fica sem fazer nada, vagabundo. Rico que fica o dia inteiro sem fazer nada, bom vivant.
É difícil ficar sem fazer nada, é caro, você está tão acostumado a sempre estar fazendo alguma coisa que quando se pega sem fazer nada se sente culpado.
Bons tempos eram aquele de criança, em que você podia ficar o dia inteiro sem fazer nada, sem peso na consciência, sem ninguém se incomodar com isso.

- Amor, o que você está fazendo?
- Nada.
Silencio.
- Nada?
- Nada!
Silencio.
- Não ta assistindo televisão?
- Não.
- Mas ela ta ligada.
- Mas eu não to vendo.
- Então porque não desliga?
- Porque eu não quero fazer nada.
Silencio.
- Vamos fazer alguma coisa?
- Não.
- Nossa que preguiçoso.
- Pois é.
Silencio.
- Posso ficar aqui com você sem fazer nada.
- Pode.
- Mas como que não faz nada.
- É só ficar quieta.
Silencio.
- Nossa, como é bom ficar sem fazer nada. Fazia tempo que eu não ficava sem fazer nada. Também nos dias de hoje, com tanta coisa pra fazer é impossível ficar sem fazer nada. Devia fazer mais isso, não fazer nada. Ta aí, daqui pra frente vou tirar mais tempo pra não fazer nada. Depois vou postar isso no twitter.
Ele olha pra ela de canto de olho. Ela para.
Silencio.
Ela levanta.
- Não quero mais ficar sem fazer nada, é muito difícil.
Ele suspira aliviado e volta a não fazer nada. Sozinho.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Apelido


Quem foi a primeira pessoa que deu um apelido?
Porque é louco, num dia você é conhecido pelo seu nome, no outro estão chamando de algo totalmente diferente.
Como ele pegava era simples: Se você ligava para o apelido, se importavam por estar te chamando daquele jeito, ele pegava. Se você não dava atenção não tinha graça.
Existem regras, maneiras de como são escolhidos. Tem os que são dados a partir de uma características físicas: Nanico, orelha, gordo, nareba, cotoco, vesgo.
Apelidos simples, são apenas o diminutivo do seu nome: Paulinho, Carlinhos, Marininha. E os de abreviação: Leo, Ka, Mi, Ju, Si, Va, etc.
Os que os amigos do seu pai te chamavam, se seu pai se chama de João, eles te chamavam de Joãozinho, “olha ai o joaozinho”. Não importa se você é menina, eles geralmente estavam bêbados, não ligavam.
Apelidos de casais, que são divididos em fases, namoro, casamento e divórcio.
Namoro: Gatinha, Amorzinho, Amoreco, Neguinha – trabalham muito o diminutivo.
Casamento: Benhe, Mainha, Tata, pai e mãe, é o mais comum.
E os de fim de casamento: Ele, Ela, inútil, a coisa, aquele monstro, a sanguessuga, etc.
E tem os sem motivo, aqueles que ninguém sabe o porque escolheram, só sabe qual é. Pra esses geralmente são inventadas histórias, quase sempre mais sem sentido do que o próprio apelido.
Apelido é assim, uma palavra errada que você fala pode tomar o lugar do seu nome para sempre.
Uma coisa é verdade, só damos apelidos pra quem somos íntimos.
Até hoje sou frustrado por não ter tido um apelido. Hoje em dia, em tempos de bullying, apelido é crime, mas antigamente era uma honra ter um apelido. Você era respeitado por ter um. Seus pais te chamavam pelo apelido, seus amigos, a professora fazia chamada pelo apelido.
- Cotoco?
- Presente.
- Nagueba?
- Presente.
- Vesgo?
- Faltou.

A verdade é que a única coisa que se sabe, da história, do apelido é: Não é você quem escolhe o apelido é o apelido é quem escolhe você. Ou algum amigo sacana.

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Que pressa


Vou ser rápido, com certeza você está com pressa. Todos nós estamos.
Já reparou como não temos mais paciência pra esperar os outros. Pra esperar na fila. Pra esperar.
Não temos paciência de esperar uma mensagem, mandamos e queremos resposta imediatamente, por isso as autoescolas estão ensinando seus alunos a dirigir e mandar mensagem ao mesmo tempo.
Hoje em dia ninguém consegue ficar só parado, tem que estar parado fazendo alguma coisa. “Emagreça dormindo”, “aprenda inglês enquanto está numa fila”, “case enquanto está no transito”. Não temos tempo a perder.
O ditado não é mais: “a pressa é inimiga da perfeição”, era inimiga, agora elas se acertaram, tão se dando bem, foram até vistas juntas tomando uma cerveja.
Estamos arrumando diversas maneiras de acelerar as coisas, não escrevemos mais palavras inteiras, beleza é: blz, tudo bem: tdb, com certeza: crtz, até pra xingar estamos economizando letras, não é mais: filho da puta, é: FDP.
Nos banheiros, a luz liga sozinha, a agua sai só de você aproximar a mão da torneira, não precisamos nem esfregar as mãos, o sabonete já vem em espuma. Estou vendo o dia em que você vai terminar sua necessidade e vai aparecer uma mão de algum lugar pra limpar pra você.
O mundo gira. E esta girando tão rápido que estamos ficando tontos.
O problema é que indo nessa velocidade perdemos muita coisa, então quando finalmente paramos para respirar é que nos damos conta do tanto de coisa que passou desapercebida enquanto estávamos correndo. Então damos uma resmungada, algo como, “caramba como a vida passa rápido”, então alguém nos avisa que a fila andou.

- Como vai?
- Correndo e você.
- Correndo também.
Ambos olham para o relógio, ou para o celular.
- Vou indo, tenho que correr.
- Eu também.

Ps:. Agora você deve estar pensando, perdi meu tempo lendo esse texto.