Os
dois estão a mesa, esperando o garçom trazer os pratos escolhidos. O silencio
entre os dois cria uma nuvem pesada. Só ouvem-se as conversas das outras mesas.
- A
meu dia foi puxado. – diz o homem magrelo de terno na mesa a direita deles.
-
Devia ter visto a cara dela. – comenta a loira da esquerda.
-
Não aguento mais trabalhar naquele lugar. – reclama a moça de vestido florido.
-
Hoje eu conto, não aguento mais segurar isso. – afirma o rapaz de voz afeminada
que está atrás dela.
Enquanto
os dois continuam em silencio.
O
garçom chega com as entradas: torradas, patê, anti-pasto e azeitonas. Deixa em
cima da mesa e sai. Os dois começam a beliscar algumas coisas. Uma torrada com
patê, outra com anti-pasto. Ela vai pegar uma azeitona, ele mira a mesma que a
dela, então os dois engalfinha a mesma. Ele olha pra ela, ela olha pra ele. Ela
olha para azeitona, pra ele, pra azeitona mais uma vez, pra ele de novo dessa
vez com uma cara de quem queria que o garfo estivesse enfiado no pescoço dele,
não na azeitona. Ele mantem o garfo fincado e olha pra ela, então assente com a
cabeça para que ela fique, afinal de contas não quer brigar por uma azeitona.
Ela faz que não com a cabeça e ergue a sobrancelha como se dissesse, “não, pode
ficar, tem mais azeitonas no mundo”, então tira o garfo, cedendo o aperitivo.
Ele abre um sorriso, como se tivesse comemorando uma vitória. Leva a azeitona a
boca e mastiga com gosto, tudo isso sem parar desviar o olhar dela, que o
encara. Num instante o sorriso dele começa a desaparecer. Seu rosto começa a
ficar vermelha, ele solta o talher na mesa. Ela acha que é uma provocação,
então não faz nada. Ele começa a tossir. Ela ainda acha que ele está de
sacanagem pra cima dela. A tosse aumenta. Ela continua sem fazer nada. Agora
todos em volta já não estão mais interessados em suas conversas, mas sim no
homem se engasgando. O tom do rosto dele já não é mais avermelhado, está entre
o azul e o roxo. Ela mantem o mesmo rosto, nenhuma reação. O garçom que esta
atendendo eles nota que tem alguma coisa errada, o cliente está balançando os
braços como alguém que está se afogando. Ele se aproxima e ve que é realmente
isso que está acontecendo. O garçom pega distancia, vem correndo e da um tapa
nas costas do afogado, ele cospe a azeitona que cai, inteira, dentro do prato
dela. Todos em volta aplaudem o garçom, o homem aos poucos vai voltando a cor
normal, e agora quem está com um riso no rosto ela. Que pega o garfo, espeta a
azeitona, leva até a boca, e mastiga enquanto com os olhos celebra mais uma
vitória.
MEDO.DE.VOCÊ.
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