sexta-feira, 9 de março de 2012

Rubes, sem N

Rubes está num desses barzinhos, que depois de tal hora vira balada, já que não tem mais ninguém sentado e a musica está tão alta que não da mais pra conversar sem falar ao pé do ouvido e gritando. Nesse momento ele se encontrava parado de frente para o espelho do banheiro pensando em como iria abordar a loira que estava no balcão sozinha, tomando chope e cantando todas as musicas.
Vou chegar nela. Mas o que eu falo? ‘Oi tudo bem?’, oi tudo bem é muito formal, não é coisa que se fala num barzinho, se bem que já não é mais barzinho, ta mais pra balada. Pior ainda. Oi tudo bem não rola, muito profissional. ‘Oi tudo bem’. Já sei, vou chegar me apresentando. ‘Prazer Rubes, qual é a sua graça?’. Qual sua graça, ninguém mais usa isso. Talvez no tempo do meu avo fosse legal. Hoje não. Tenho que ser mais informal, ‘oi linda!’, oi linda é bom, as mulheres gostam de elogios. Oi linda, oi anjo, oi coração, oi querida... Não querida não, querida é muito irônico, vai achar que eu estou sendo irônico, vai pensar, “oi querida, nossa como ele é irônico”. Sendo que eu nem sou. Tenho que ir no básico, feijão com arroz. ‘Prazer Rubes. Isso Rubes sem N, BES mesmo. Diferente né, gostou? Quer levar pra casa?’. E se ela perguntar por que RuBES e não RuBENS? Se ela perguntar é por que ela está interessada. É um bom sinal. Então é isso, vou me apresentar. Depois a tiro pra dançar. Depois me declaro. Se bem que eu acho que ela não quer dançar, já devem ter tentado tirar ela, com certeza, ela está sozinha no balcão por opção. E outra se eu chama-la pra dançar ela pode usar a desculpa que está com o pé doendo. Lógico, já vou chegar tirando pra dançar, depois me apresento, depois me declaro. Ih mas eu não sei dançar. Tinha esquecido disso. Mas eu sei enganar. Engano bem. Sou malandro. Não tem por que ela não gostar. As mulheres gostam de malandro. O problema é se ela souber dançar, aí vai saber que eu não sei dançar quando formos dançar, vai descobrir que eu estava apenas tentando engana-la. Vai terminar tudo, afinal de contas mulher não gosta de ser enganada. Malandro não tem vez. O que eu posso fazer é: tira-la pra dançar e quando ela começar a notar que eu não sei dançar, falo que ‘não estava acertando por que estou com o pé doendo. Na verdade nem queria dançar. Só dancei por que ela insistiu!’. Aí eu me apresento, depois me declaro. Isso! Uso a dança como armadilha. Então é agora. Se bem que ela está bebendo, não quero atrapalhar, ta no momento dela. Vou esperar ela terminar de beber. Isso quando ela estiver terminando eu apareço. Melhor, quando ela estiver terminando de beber eu apareço com outra bebida e faço uma surpresa. Se bem que isso é um barzinho, um copo de chope não surpreende ninguém. Já sei vou comprar uma champanhe, quando ela estiver dando um ultimo gole, chego estourando a champanhe, pegando ela de surpresa, antes que ela possa falar alguma coisa eu a tiro pra dançar, peço desculpas por não saber dançar, me apresento ‘Rubes, sem N’, e me declaro. Será que tem champanhe pra vender aqui? Tomara que não seja caro. Não to podendo gastar. Será que eles financiam? Ah, mas se não financiar também vou comprar do mesmo jeito. Se for preciso eu vendo um rim. Ta decidido, vou vender um rim, aí ela vai ficar comovida, se apaixonar por mim e doar um dos rins dela. Fechado. É isso, vou lá agora. Estouro a champanhe. Puxo pelo braço pra dançar. ‘Desculpa eu não sei dançar’. ‘Rubes, sem N’. ‘Acho que eu te amo’. ‘Se eu desmaiar, não se preocupe, estou palido por que doei um rim por você’.
Quando Rubes sai do banheiro, o balada já voltou a ser apenas barzinho com alguns gatos pingados, sentados nas mesas, e a loira não está mais no balcão.

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