segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Primeiro dia de aula



Hoje é dia de volta as aulas. Saudades. Não de estudar, mas sim de ir para a escola.
Quanta responsabilidade tinhamos no primeiro dia de aula. Escolher onde sentar, a escolha do lugar era fundamental, onde sentaria é o que ditaria qual seria o seu comportamento durante o ano. 
Se sentasse no fundão não seria estudioso, um dos pré-requisitos para sentar no fundão era: não disposto a prestar atenção na aula e gostar de conversar; ou pelo prometer que só prestaria atenção quando a corda estivesse totalmente no pescoço, lá pelo terceiro bimestre. Já sentar na frente é mostrar para que estava ali, a maioria dos “inteligentes” e bem sucedidos que você conhece hoje sentava-se na frente. Sentar no meio era estar em cima do muro, era como dizer, estou ai, minha mãe quer que eu estude, mas se pintar uma bagunça, pode contar comigo. Não importa qual lugar você escolhia, só que a partir do momento que escolheu, aquele seria o seu lugar durante todo o ano letivo. Não tinha o seu nome na carteira, um documento, apenas estava implícito, era uma espécie de contrato invisível, mesmo se você faltasse, ninguém sentaria no seu lugar. Respeitavam. Então tinha que pensar bem, mas você só teria esse tato após o primeiro ano, então nos outros chegaria mais cedo pra garantir um bom lugar. Se pudesse com certeza teria crianças acampando em frente as escolas, como nos grandes show, ou clássicos de futebol, para garantir um bom lugar na sala.
Depois de escolhido o lugar, era esperar para saber quem sentaria a sua volta. Aquelas pessoas fariam parte da sua rotina diária, iria vê-las mais do que o seu pai. A da carteira da frente, a de trás, lado esquerdo e do lado direito. Esse seria o seu circulo. Sua rotina. Diga-me perto de quem tu sentas que eu direi quem és.
Com o tempo viria a descobrir de qual tribo faria parte. Dos nerds, dos bagunceiros, as bonitinhas, dos descolados, dos que sofriam bullying – os nerds também sofria bullying. Mas que não era nerds sofria porque era gordo, ou tinha a orelha grande, nariz grande, uma coisinha, um “defeitinho” e você poderia ser sacaneado o resto da vida. Ou se seria café com leite – que era não fazer parte de nenhuma das tribos acima. Isso era definido antes do fim do primeiro bimestre, e poderia ser mudado a cada troca de ano, já ouvi falar de casos de alunos que num ano fazia parte da tribo dos nerds, no outro estava na dos bagunceiros. Essa definição só tinha o prazo de validade de um ano letivo.
Depois de alguns anos como aluno, que já tinha passado por várias voltas as aulas, aprendia sobre tudo isso. Então sua única preocupação era: se cairia na mesma sala. Cair na mesma sala significava ter tudo definido, não precisar passar por tudo isso de em qual lugar, tribo, amigos, etc. cair na mesma sala era voltar a rotina.

- Cadê o Anderson?
- Não soube?
- Não, o quê?
- Ele mudou de escola.
- Mentira?
- Sério.
- Os pais dele fizeram isso com ele?
- Parece que mudaram o pai dele para uma filial do Rio De Janeiro.
- E não tinha nem ônibus pra ele vir todo dia?
- São oito horas de viagem.
- Qual é o problema.
- Não sei se os pais dele concordariam.
- Mas ele tinha tudo aqui. Agora vai ter que começar tudo do zero.
- É triste.
- Ainda bem que meu pai trabalha numa empresa pequena.
- Ainda bem.

2 comentários:

  1. kkkk é isso msm q acontece... legal o diálogo no final.

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  2. Acho q gostei tanto da escola q resolvi voltar p trabalhar... no fundamental era a da frente q gostava de matemática... no médio, do grupo dos estranhos do fundão... mas bullying, bullying mesmo acho q escapei ilesa. invisibilidade que chama. Mas a escola sempre foi minha fuga. Onde aprendia algo. Nos últimos tempos até isso me tiraram. Querida pandemia!

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