Vivemos
na era da ditadura da beleza. O mercado de estética é um dos que mais cresce. Com
ele veio junto os booms das academias. Segundo dados: para cada cinco
lanchonetes fast food existe uma academia. Ou seja, você podia ter saido pra comer uma batata frita e ter acabado numa esteira.
O numero
de novas academias novas que abrem são quase quanto os de igrejas. A coisa está
tão séria que, corre o risco, um dia você acordar e estar no meio de um culto,
ou de uma aula de spennig. Nos dois casos vai ter alguém gritando. Do jeito que
as coisas estão, daqui um tempo vão abrir uma: Academia Igreja. Você conta os exercícios
no terço, ou faz uma série de quinze exercícios, reza um pai nosso, mais um,
outro pai nosso. Dez por cento da mensalidade vai para o dizimo. Uma hóstia feita com suplemento, é o corpo de Jesus – sarado.
As
demandas pelas as academias cresceram porque foi imposto um padrão de beleza. Não
sei quem foi que criou esse padrão de beleza, onde foi essa reunião, mas eu não
me encaixo nele. Talvez nem o cara que criou o padrão se encaixe. Estive até pensando
em organizar uma passeata pra reivindicar por algumas mudanças no tal padrão,
ou pelo menos baixar um pouco o nível. Uma passeata do. M.F.E.D.MDQS: Movimento
dos Feios, Estranhos, Diferentes, Meus Deus que Susto.
Mas enquanto
não consigo reunir gente o suficiente para essa causa – quem quiser fazer parte
favor entrar em contato no site do M.F.E.D.MDQS – entrei na academia pra ver se
consigo me encaixar no padrão, nem que for pela média, ou pelo menos passar despercebido.
Passei
varias vezes em frente a academia pra examinar o lugar. Ver se seria ali mesmo.
Ensaiei como seria a abordagem – alias estou ensaiando há uns dez anos. Então finalmente
entrei. Três vezes. Quando notei que iriam chamar a policia, abri o jogo e cochichei
que estava ali porque queria fazer academia. Pediram para eu falar mais alto,
ainda com o telefone na mão ameaçando chamar a policia. Repeti dessa vez alto. Quando
conseguiram parar de rir, meia hora depois, me deram algumas informações. Perguntei
qual era o horário o que tinha menos gente malhando, não queria atrapalhar quem
realmente sabe fazer aquilo. Ele me indicou o horário da tarde, horário que só
tem mulheres e senhoras de idade. Menos mal, vai ter mais gente erguendo o
mesmo peso que o meu, pensei.
Já
de começo achei difícil, puxado, pensei em reclamar, mas achei que não seria
legal, afinal de contas ainda só estava fazendo a inscrição. Pegaria mal.
Finalmente
comecei, depois de tantos anos enrolando eu estava ali, pra fazer exercícios,
sem ganhar dinheiro ou nota pra fazer aquilo. Era pior do que eu imaginava. Falei
pra pegarem leve porque era meu primeiro dia, tudo bem que estava precisando
muito, mas que não precisavam exagerar, eles rebateram alegando que aquilo era
só o alongamento. Perguntei quanto cobravam só eu quisesse fazer alongamento. Para
esquecermos esse negócio de erguer peso. Agora todos estavam rindo, não só os funcionários.
Menos mal. Estava me enturmando. Fiz todos os exercícios conforme a personal
mandou, como qualquer homem quis impressionar a mulher que estava ao meu lado, no caso a personal, então
ergui mais peso do que realmente aguentava, mas como tinha muitas outras
mulheres em volta, e eu não queria ser taxado como machista, ergui menos pesos
do que elas. Fiz só com a barra que, diga-se de passagem, é bem pesada. Não é fácil
agradar todo mundo.
Foi o
primeiro dia. Primeiro de muitos, ou de pelo menos primeiro de três meses, que
foi o numero de meses que eu paguei. Já consigo notar a diferença. Não é algo
gritante, mas já me sinto mais forte, ou o espelho ta mentindo porque não
aguenta mais eu me olhando nele.
Esse
foi um pequeno passo para o homem, um grande passo para mim. Falando passo, ta
doendo minhas pernas. Acho que não vou amanhã.
"não queria ser taxado como machista" é seeensacional! hahahahaha
ResponderExcluirTá certo, vamo que vamo. No pain, no gain. hahaha
Adorei! Muito bem escrita, inteligente e engraçada!
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